domingo, 25 de fevereiro de 2007

Os Reais Problemas

Capello começou por surpreender ao deixar de fora Diarra e ao incluir no seu lugar Emerson, que à muito perdeu margem de manobra quando o Real actua no Santiago Bernabeu frente aos seus adeptos.

Nos primeiros 20 minutos o jogo pertenceu por completo ao Atlético de Madrid, que entrou com mais determinação e melhor organizado. O Real continua com as dificuldades habituais, tendo um início de partida desastroso.

As dificuldades do Real deveram-se à dificuldade dos seus jogadores em igualarem a determinação dos jogadores rivais mas também a aspectos tácticos e de dinâmica quer defensiva quer ofensiva.

A Atlético deveria ter ganho o jogo facilmente uma vez que foi sempre a melhor equipa em campo, mas devido a falta de eficiência na concretização e a má prestação do árbitro o Real conseguiu arrancar um ponto na casa do rival.

O que pretendia Capello:

Capello começou o jogo com a normal linha de 4 defesas.

O meio campo foi ocupado por Emerson, Gago e Guti. Emerson mais fixo no centro e com uma pequena amplitude de movimentos pretendendo o treinador assim dar a segurança necessária a defensiva do Real, Gago era responsável por equilibrar defensivamente o real quer a direita quer a esquerda dando apoio ao lateral, tendo a seu cargo uma grande amplitude de movimentos horizontais defensivos, funcionando como um pivot mais móvel contrabalançando a Emerson mais fixo. Gago era ainda o principal responsável por fazer a primeira transição ofensiva dos merengues, entregando a bola ora a Guti, ora aos extremos. Guti deveria jogar mais avançado no meio campo sendo responsável pela segunda transição ofensiva, com passes nas costas da defesa do Atlético, com passes longos, ou a sair ele mesmo em posse de bola dando tempo a equipa para se organizar ofensivamente.

No ataque jogaram Higuaín no lugar de Nistelrooy mais fixo no centro como ponta de lança, Raul e Reyes mais abertos nas alas. Raul tentando fazer diagonais para centro sempre que partia da direita, Reyes deveria fazer um movimento mais vertical aproveitando teoricamente a junção de Raul a Higuaín no centro criando dificuldades aos centrais adversários, enquanto salgado subia pela direita dando equilíbrio ofensivo ao ataque do Real.

O que pretendia Aguirre:

O atlético jogo também com uma linha de 4 defesas em que os laterais tinham grande liberdade para desenvolver movimentos ofensivos e passando muito por eles a primeira transição ofensiva da equipa do Atlético, onde deveriam entregar a bola ora ao extremo ora a Maniche para efectuarem a segunda transição ofensiva ou ainda darem a bola de forma mais directa a um dos pontas de lança que baixava para receber e virar-se para a baliza criando desequilíbrios pelo meio com o apoio de Maniche ou pelas alas com o apoio do extremo respectivo, obrigando assim a baixar também os extremos do real para defender, perdendo eficácia ofensiva.

O meio campo colchonero actuava no centro com um duplo pivot, Luccin com mais preocupações defensivas e Maniche com mais preocupação de posse de bola, de transições ofensivas e de apoio ao jogador com a bola, criando sempre uma possibilidade de passe ao homem que transportava a bola. Nas alas jogaram Jurado pelo lado esquerdo e Galletti pelo lado direito, a estes jogadores cabia apoiarem defensivamente os laterais e a fazer a segunda transição para o ataque obrigando o trio do meio campo do Real a abrir para apoiar os seus laterais e perdendo assim eficiência no centro do terreno para Maniche e Luccin.

Na frente Aguero e Fernando Torres eram responsáveis por com as suas movimentações arrastar os centrais abrindo espaço para os médios apareceram na zona de finalização, principalmente Maniche e Jurado que deveriam fazer diagonais no sentido vertical entre o lateral e o médio defensivo do Real. Os dois avançados alternavam nas suas funções, quando um fazia o movimento na direcção das alas o outro permanecia mais fixo. Muitas vezes baixavam no terreno fugindo à marcação dos centrais contrários e possibilitando assim terem a bola para se poderem virar para a baliza e criar desequilíbrios uma vez que tanto Aguero como El Ninõ são muito eficientes quer a jogar com os extremos quer a jogar um com o outro.

O que falhou no Real:

A fraca exibição deveu-se sobretudo ao deficiente processo defensivo e a deficiente primeira transição para o ataque.

No aspecto defensivo – Gago não foi capaz de apoiar convenientemente os laterais, deixando muitas vezes estes na situação de 1 para 1 com o extremo adversário o que permitiu que o Atlético criasse varias dificuldades ao Real nos primeiros 20 minutos. Com Gago perdido nos seus movimentos defensivos Emerson ficava praticamente sozinho para Maniche e Luccin uma vez que Guti nunca foi muito eficiente na luta pela posse de bola no centro do terreno, criando-se assim uma superioridade do Atlético no centro apesar de apenas ter dois homens para três do Real. Os extremos do Real também não faziam um acompanhamento eficiente na subida dos laterais do Atlético o que dificultava ainda mais a missão defensiva dos laterais e de Gago, que não conseguia fazer o equilíbrio defensivo pela deficiente movimentação horizontal que efectuava, tendo de recorrer varias vezes à falta, uma vez que chegava sempre atrasado aos lances. O atlético aproveitou esta deficiência e tanto Galletti como Jurado criaram dificuldades à estrutura defensiva do Real. Galletti por ser um extremo puro tinha tendência a fazer os seus movimentos no sentido vertical sempre colado a linha lateral, do outro lado Jurado tinha tendência a movimentar-se em diagonal pisando os terrenos entre o lateral e o médio do Real, e enquanto Gago não acertou no seu movimento Jurado fez o que quis com ampla liberdade, tendo sido o melhor em campo nos primeiros 20 minutos, com o lateral Lopez a aparecer sempre bem no lado esquerdo pelo exterior não permitindo a Salgado fechar no centro a subida de Jurado. Depois dos primeiros 20 minutos quando o atlético já estava a vencer por 1 – 0 gago começou a perceber melhor os movimentos ofensivos do Atlético e o Real ficou mais equilibrado na sua defesa tendo a partir dai o Atlético mais dificuldades em criar desequilíbrios ofensivos. Com a saída de Gago e a entrada de Diarra o Real ganhou mais presença física no meio campo e em alguns momentos tornou-se mais eficiente nos processos defensivos. Com a saída de Galletti e a entrada de Mista no Atlético o Real voltou a ter mais problemas defensivos, pois mista trouxe mais dinamismo ofensivo e mais presença física ao ataque colchonero.

No aspecto ofensivo – a primeira transição para o ataque nunca foi eficiente uma vez que Gago raras vezes foi capaz de sair com posse de bola da sua defesa, isto porque os apoios encontravam-se sempre indisponíveis obrigando Gago a sair sozinho com a bola tornando-se uma presa fácil para a eficiente primeira pressão defensiva do atlético, ganhando assim varias bolas na zona ainda do meio campo do Real, ora porque o Gago tentava sair a jogar sozinho e perdia o bola ora porque tentava um passe difícil e era interceptado, o problema não estava em o gago não jogar fácil, o problema estava em os seus companheiros de equipa não criarem possibilidades para o Gago sair a jogar fácil. Esta dificuldade em fazer a primeira transição fazia com que o real estivesse sempre em dificuldades defensivas. Emerson praticamente nunca procurava a bola, Guti estava muito longe preocupado em fazer a segunda transição ofensiva, o que tornava a vida de Gago muito difícil, acabando por fazer uma péssima exibição quanto a mim sem ter muita culpa.

Os extremos por sua vez encontravam-se muito longe da defesa para dar um apoio conveniente a estrutura defensiva mas ao mesmo tempo encontrava-se muito longe do ataque deixando Higuaín desamparado na frente, tendo este de receber a bola, segurar e esperar que alguém o apoiasse, como esse apoio estava sempre longe acabava por perder a bola em lances individuais. Guti pela sua falta de movimentação e determinação nunca foi um problema para a dupla Luccin/Maniche, tendo estes assim mais liberdade para fazer compensações defensivas sempre que eram necessárias permitindo ao atlético ganhar a bola rapidamente para partir para o ataque. A entrada de Cassano não acrescentou nada ao jogo “excepto” o passe genial que este fez para Higuaín marcar a seu primeiro golo desde que deixou o River Plate.

2 comentários:

astolfo disse...

excelente entrada, roger, parece-me mt boa a análise. compreendo o "drama" de Gago, afinal Emerson recusou-se a jogar na passada quarta frente ao Bayern, inclui-lo na equipa inicial (ja na convocatoria) parece-me um acto de má gestao de Capello q so pode indicar q o ambiente para aqueles lados n anda bom...e q claro, o brasileiro, q ja corria pouco, ainda correrá muito menos, mas enfim...O argentino, q pelo q dizem, até tem pinta de craque, tem q fazer tudo sozinho, o que implica tb construir a 1a fase de ataque, o q com mecos estacados à espera q a bola lhes chegue aos pés se torna complicado. Confesso q n vi o jogo, mas imagino q o q deve ter valido aos merengues tenha sido essa estranha aversão do Atletico aos jogos em casa esta época... de resto, pelos golos, a confirmaçao da classe de Torres e da boa visão de jogo de Guti. E a pequena diferença q pode valer uma escorregadela...Zé Castro q o diga, passou de um hipotético grande corte a um momento pouco fotogénico que Higuain (bem) aproveitou.
Continuaçao...de boas entradas!

astolfo disse...

perdao, Guti até tem boa visão sim sr, mas neste caso referia-me a Cassano...